O meu artigo do Jornal AltoAlentejo desta semana fala um pouco sobre a prova de vinhos e a forma como os nossos sentidos estão envolvidos no processo. De forma sucinta, porque o espaço não me permite grandes divagações, tento mostrar as diferentes fases de prova e a forma como a devemos encarar.
Espero que gostem!
Desvendar
os segredos do vinho – A Prova
Provar, degustar e
apreciar, é bem mais que beber!
A prova estimula os
sentidos, reporta-nos a experiências vividas, transporta-nos a outros lugares,
revivemos emoções, sentimos aromas escondidos na nossa memória, lembramos
sabores há muito sentidos, transmite-nos sensações de frio, de calor, e tantas
vezes saudade!
Durante toda a prova os
nossos cinco sentidos devem estar alerta.
A audição é o “plim”, o “clic”, a chamada, avisando-nos que a prova
vai começar, quando de forma viva, ou mais lentamente, deixamos escorregar o
vinho ao longo do copo.
A visão permite-nos avaliar a cor, a limpidez, a lágrima que cai, sob
forma de gotas mais ou menos espessas ao longo das paredes do copo. Assim como
um arco-íris é gerado pelo reflexo da luz que bate nas gotas de água, também no
vinho ainda que individualmente, podemos reconhecer várias cores. Do esverdeado
ao âmbar, passando pelo amarelo e dourado, as cores do vinho branco evoluem
como as suaves cores do arco-íris. De cores mais quentes e mais carregadas,
muitas vezes expressas pelo nome de pedras preciosas, passam de um vermelho
vivo ao rubi, passando pelo granada, culminando em suaves nuances castanhas que
testemunham a evolução do vinho tinto.
Os aromas são a
sensualidade do vinho, aromas que nos encantam, que nos prendem, que nos
emocionam e embriagam. Talvez uma das mais importantes fases da prova, e que
não casualmente nos é dada pelo órgão mais apurado: o olfacto.
São muitos os aromas que
podemos encontrar num vinho. Um bouquet
repleto e complexo, leva-nos aos mais encantadores jardins (aromas florais), aos longos pomares de
fruta (aromas frutados),
transporta-nos das mais vastas planícies às mais íngremes serras (aromas vegetais/herbáceos). Participamos
na sua elaboração, sentimos aromas a manteiga, natas, pão, fermento e iogurte (aromas fermentativos/lácteos),
amadurecemos e viajamos pelo mundo, chegamos até à Índia (aromas a especiarias) ou passeamos pelas vastas florestas francesas
(aromas a madeira/carvalho francês),
participamos em caçadas (aroma animal),
e algumas vezes, desperta-nos bruscamente com defeitos a rolha, vinagre, suor de cavalo ou ovos podres.
A curiosidade aumenta,
e surge a necessidade de o colocar na boca. É no paladar que confirmamos os aromas. O efeito retronasal conferido
pela ligação entre o nariz e a boca, faz-nos parecer que na boca são aromas, no
entanto as suaves nuances aromáticas manifestadas, não são mais que um
reconhecimento das sentidas no olfacto. Na boca, mais propriamente na língua
podemos desvendar o doce, agradável
sabor que nos adoça a alma, indicador de corpo, estrutura e suavidade. A acidez, a que vulgarmente associamos ao
limão, é sinal de vivacidade, frescura e limpeza ao vinho. O toque amargo presente, muitas vezes de
natureza vegetal, tem origem na insuficiente maturação da uva, ou num contacto
demasiado longo com as partes verdes do cacho durante a maturação.
A par dos sabores e dos
aromas retronasais, a boca transmite-nos sensações tácteis, mais ou menos
agradáveis, de intensidade e persistência variáveis. A adstringência, que
confere a sensação de secura, rugosidade e aspereza, muito semelhante à sentida
quando comemos um dióspiro. A sensação térmica de calor conferida pelo álcool, oferece
estrutura, untuosidade e corpo ao vinho.
Desvendado o segredo…
um brinde e UM FELIZ 2012.
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